Conversando com pais e colegas de trabalho fica muito visível saber que "nossos" pais passam por fases...fases do TDAH. Comecei a ler mais sobre o assunto de como os pessoas lidam com o tema e constatei algumas fases.
Quando falamos de TDAH, pensamos que todas as pessoas já conhecem o que é, ou que saibam sobre o que estamos falando...para nós que convivemos com crianças que apresentam os sintomas tudo parece tão norma! Porém nos esquecemos que para os pais, para a família, amigos, sociedade a coisa não é bem assim.
É um longo caminho que se trilha até chegar a um tratamento/acompanhamento. Pensando nas fases diria que as principais são: a suspeita, a negação, a procura/investigação, a critica da sociedade e de familiares, a solidão, o disgnóstico, a tristeza, a aceitação e por fim o tratamento com acompanhamento.
A suspeita é quando vemos que algo não vai bem. Geralmente todas as crianças são movimentadas, desobedientes, inquietas, agitadas...percebemos que a nossa criança é mais do que "normal" - se movimenta excessivamente, é excessivamente desobediente, excessivamente desatento, excessivamente..., excessivamente..., alguns pais, especialmente as mães são as que mais percebem.
A negação é quando tentamos convencer de que não está acontecendo nada, de que tudo vai melhorar, que é uma fase da idade. Nos convencemos, convencemos quem está ao nosso redor e assim atrasamos o inevitável causando um dano dificilmente recuperado.
A procura ou investigação é quando começamos a perguntar, a procurar na internet palavras como: inquieto, limites, normas, obediência; e procuramos livros sobre desenvolvimento "normal" das crianças...vemos coisas que se encaixam e se temos sorte, podemos chegar as palavras "Transtorno do Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade". Levamos um banho de água fria quando vemos que tudo se encaixa com perfeição.
As críticas sociais são acusações de amigos, familiares, professores e as vezes até de médicos e psicólogos. Todos sabem mais que você, todos sabem que a culpa é sua, que você não soube colocar limites, que você não soube educar, não conhece regras, que a criança assiste muita televisão...resumindo você fez tudo errado e que se fossem eles o teriam feito certo - todos eles sempre o teriam feito melhor! O problema é se você acreditar nisso - com toda certeza estarás perdido.
A solidão é quando todos a sua volta vão ficando longe, e se não se afastam é você quem se afasta. Salvo algumas/poucas pessoas que continuam ao seu lado ao longo do tempo. Muitas vezes sua vida social de destrói, desaparece e o sentimento de solidão pode ser devastador...você precisa escapar desse sentimento começando do zero.
O diagnóstico é uma odisseia...você pode pegar um médico que não acredita no tema, ou pode ser um que só está preocupado com o valor da consulta...uns podem negar, descartar o disgnóstico por ter sido feito de maneira rápida e precipitada (infelizmente isso acontece). Se você tem sorte ou foi recomendada podes chegar a bons profissionais e ter um diagnóstico completo, não só de TDAH mais também de efeitos causados na aprendizagem e possível evolução.
Um bom neurologista, psicopedagogo, psicólogo, professor especialista te acompanhará no processo impedindo que a criança fique só num diagnóstico sem tratamento.
A tristeza é quando você compreende que o problema existe, é certo e tem nome. Seu filho tem Transtorno do Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade.
A culpa é suspeitar que você tem culpa. Acontece com todos ou a maioria dos pais. Um transtorno neurobiológico não pode ser provocado pelos pais ou por coisas ao seu redor - é uma parte do cérebro que funciona de forma diferente, os estímulos, as ordens não funcionam como deveriam. Afetam a memória, a atenção, a concentração, a impulsividade, a reflexão...
A aceitação é a fase que você compreende que ninguém vai fazer nada por seu filho se você não fizer. Quando compreendes que o mais importante é ele e que você irá fazer o que é preciso para levá-lo adiante. Você vai descobrir que vocês são os melhores pais para seu filho e estarão juntos para ajudá-lo superar as dificuldades.
O acompanhamento é todo o processo que seguirá para conseguir interações com os pares, com o ambiente. Com nossa ajuda vamos trabalhar/moldar a autonomia e o controle que a criança necessita a princípio, ensinando-a a auto-controlar-se e compreender o que acontece.
Se pensarmos um pouco mais, com certeza encontraremos mais fases, mas creio que estas são as principais. Em geral os pais se sentem frustados e são criticados por não conseguirem impor disciplina suficiente. É preciso lembrar aos pais que esse é um problema neurobiológico e que seus filhos necessitam de ajuda para alcançar o exito.